A pandemia de Covid-19 assolou o mundo deixando um rastro de destruição em todos os lugares. Além das consequências diretas da infecção, repercutiu nas condições de vida de grande parte da população, sobretudo entre os grupos mais vulneráveis, como a população negra, que ocupa os postos de trabalho mais precários, dentre eles, a categoria de empregadas domésticas. O Brasil conta com uma população de mais de cinco milhões de trabalhadores/as domésticos/as, sendo que a maioria desse grupo é composto por mulheres negras, pobres e periféricas. Objetivamos neste artigo debater como a pandemia de Covid-19 agravou o cenário de vulnerabilidades de mulheres negras empregadas domésticas, pobres e moradoras da periferia, tomando como exemplo os casos da primeira vítima do coronavírus no Rio de Janeiro e da morte do menino Miguel, filho de uma empregada doméstica. Mediante uma revisão bibliográfica, buscamos discutir as questões de classe, raça e gênero que permeiam a profissão de empregadas domésticas, contextualizando com as heranças do Brasil escravocrata e colonial. Embora nos últimos anos essa categoria tenha conseguido algumas conquistas legais, ainda é um dos trabalhos pior remunerados, com quase nenhum prestígio e muita precarização. Predominantemente exercido por mulheres, o trabalho doméstico representa um cenário de muita vulnerabilidade, que se agrava ainda mais em tempos de crise como na pandemia do coronavírus e o Estado precisa de um olhar aguçado para combater as desigualdades e a pobreza decorrente dessas situações.
Referências
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