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Foucault e a Pesquisa Educacional Brasileira, Depois de Duas Décadas e Meia

Foucault and Brazilian Educational Research, After Two and a Half Decades

Resumo:

O presente artigo devota-se a oferecer um panorama extensivo da recepção das ideias de Michel Foucault na pesquisa educacional brasileira, por meio dos resultados de uma investigação sobre a produção acadêmica de matriz foucaultiana em 52 periódicos educacionais, entre 1990 a 2014. Consoante a uma estratégia de endereçamento à massa documental que fosse capaz de abdicar do ajuizamento dos usos das ideias do pensador, 401 artigos que sugeriam uma apropriação da teorização foucaultiana como modo de trabalho foram selecionados e, então, analisados em conjunto. Ao final do texto, são formulados alguns apontamentos acerca dos limites atuais e das possibilidades futuras dos estudos foucaultianos na educação brasileira.

Palavras-chave:
Michel Foucault; Pesquisa Educacional; Literatura Educacional; Estudos Foucaultianos

Abstract:

This article is devoted to providing an extensive overview of the reception of Michel Foucault’s ideas in the Brazilian educational research, through the results of an investigation on the academic production based on Foucault in 52 educational journals, from 1990 to 2014. Relying on a strategy of addressing to the documents able to renounce judging the uses of the thinker’s ideas, 401 articles suggesting an appropriation of Foucault’s theorization as a working mode were selected and, then, analyzed together. At the end of the article, some reflections about current limits and future possibilities of Foucauldian studies in Brazilian education are presented.

Keywords:
Michel Foucault; Educational Research; Educational Literature; Foucauldian Studies

Michel Foucault e a Pesquisa Educacional Brasileira: depois de duas décadas e meia1 1 Pesquisa financiada pelo CNPq e pela FAPESP.

Em um texto constante do penúltimo dossiê dedicado ao encontro do pensamento de Michel Foucault com a educação, Alfredo Veiga-Neto e Tatiana Luzia Rech (2014FOUCAULT, Michel. Do Governo dos Vivos: curso do Collège de France (1979-1980). São Paulo: WMF Martins Fontes, 2014.) manifestam-se acerca do que reputam como uma foucaultmania em curso na pesquisa educacional brasileira, responsável por gerar “[...] uma lamentável inflação de escritos que pretendem ser foucaultianos, mas que, muitas vezes, não passam de arremedos medíocres e até mesmo ridículos” (Veiga-Neto; Rech, 2014, p. 78). Os autores formulam, então, uma série de precauções para aqueles interessados em conduzir iniciativas que não redundassem, segundo uma analogia com o universo musical por eles evocada, em uma “[...] cacofonia resultante de uma composição mal composta ou de uma execução mal executada” (Veiga-Neto; Rech, 2014, p. 72). Entre tais precauções:

Faça uso interessado de Foucault. […] Não morra de amores pela moda. […] Tente pensar de outros modos. […] Cuidado com a escolha das ferramentas. […] Aposte em uma leitura monumental. […] Exercite a suspeita. […] Não é o assunto ou a instituição que definem uma abordagem foucaultiana. […] Foucault não é um guru (Veiga-Neto; Rech, 2014, p. 75-78).

Passadas mais de duas décadas de uma intensa produção teórica, desde as iniciativas pioneiras a cargo do próprio Veiga-Neto (1995) e de Tomaz Tadeu da Silva (1994SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). O Sujeito da Educação: estudos foucaultianos. Petrópolis: Vozes, 1994.), seria chegada a hora, segundo o arbítrio de Veiga-Neto e Rech, de perspectivar mais acuradamente os usos do pensador francês em circulação no quadrante educacional. Imbuído de propósito semelhante, mas não de todo coincidente aos esforços, afinal, mais assertivos dos autores supracitados, o presente artigo devota-se a elaborar um panorama extensivo da recepção das ideias de Michel Foucault na pesquisa educacional brasileira, dando a conhecer os resultados de uma investigação sobre a produção acadêmica de matriz foucaultiana divulgada em 52 periódicos da área educacional nas duas últimas décadas e meia; mais precisamente, de 1990 a 2014.

Sobre os Procedimentos Investigativos

Uma atualização do quadro das produções devotadas ora a difundir, ora a operacionalizar a teorização foucaultiana em diferentes áreas do conhecimento, permite-nos vislumbrar o seguinte quadro geral2 2 Em virtude da extensão do arquivo, não será possível apresentar a listagem das obras. :

• 21 dossiês e números especiais de periódicos, sendo 12 ligados a determinadas áreas do conhecimento (filosofia, sociologia, história e psicologia), bem como nove deles do campo educacional;

• 39 coletâneas, sendo 27 derivadas de eventos acadêmicos (congressos, colóquios, encontros etc.) e outras 12 originadas da reunião de pesquisadores universitários;

• 42 livros de diferentes áreas que se debruçaram sobre tópicos foucaultianos específicos; 21 que relacionam Foucault e outros campos do saber ou temáticas não imediatamente foucaultianas; e 11 que cotejam ou associam Foucault com outros autores.

No caso das obras da área educacional (não computadas na relação anterior), 10 coletâneas e 26 livros individuais (ou em coautoria) poderiam ser considerados parcial ou integralmente adeptos das teorizações foucaultianas, seja do ponto de vista temático, teórico e/ou metodológico. Em termos comparativos, o número significativo de obras educacionais revela-se mais volumoso do que aqueles dos campos de conhecimento historicamente relacionados ao pensador francês, como os da filosofia e da história, ou mesmo do direito ou da medicina. Caminho semelhante percorreram as teses e dissertações que se valeram explicitamente da interlocução com as ideias foucaultianas. Um levantamento sumário junto ao Banco de Teses da Capes3 3 Disponível em: <http://capesdw.capes.gov.br>. Acesso em: 29 ago. 2015. , referente ao período entre 2010 e meados de 2015, aponta o número de 824 trabalhos de pós-graduação cujos resumos citaram o pensador.

Entre as áreas de conhecimento a que tais trabalhos são filiados, a de educação (incluídas as áreas correlatas de ensino: ensino de ciências e matemática, educação de adultos, planejamento educacional e educação em periferias urbanas) é, novamente, a que mais se destaca, apresentando a somatória de 247 trabalhos - equivalentes a 30% do total -, sendo seguida pelas áreas de letras e linguística (173 trabalhos), psicologia (80), filosofia (57), sociais e humanidades (29), e outras 47 áreas.

A patente porosidade dos estudos educacionais às ideias de Foucault impele-nos a dedicar um olhar mais detido ao tipo de produção aí levado a cabo. Mas como fazê-lo a contento? Como perspectivar tal fenômeno, em seus detalhes?

Em outra ocasião (Aquino, 2013AQUINO, Julio Groppa. A Difusão do Pensamento de Michel Foucault na Educação Brasileira: um itinerário bibliográfico. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 18, n. 53, p. 301-324, abr./jun. 2013.), discutimos a dificuldade acentuada das pesquisas voltadas à difusão de determinado autor em um campo de conhecimento, o que pressuporia o manejo de uma simultaneidade de fontes paralelas e, amiúde, não coincidentes: livros (integrais e capítulos); teses e dissertações; trabalhos apresentados em congressos/eventos; e também os artigos publicados nos periódicos da área. E é sobre esse último estrato da massa documental que ora nos debruçamos.

A eleição dos periódicos acadêmicos como continente investigativo ancora-se na premissa de sua relevância como suporte discursivo, já que arbitrado por pares e, supõe-se, passível de ampla circulação entre os pesquisadores. Nesse sentido, trata-se do nicho escritural mais fidedigno do acervo investigativo de um campo do conhecimento, sem com isso invalidar a hipótese de que outros estratos textuais possam ser igualmente elucidativos da recepção do pensador. Exemplo disso é a iniciativa de Glaybe Antonio Sousa Pimentel e Paulo Sérgio de Almeida Corrêa (2015PIMENTEL, Glaybe Antonio Sousa; CORRÊA, Paulo Sérgio de Almeida. Apropriações teóricas de produção intelectual de Michel Foucault nas pesquisas em educação. In: LEMOS, Flávia Cristina Silveira et al. Estudos com Michel Foucault: transversalizando em psicologia, história e educação. Curitiba: Editora CRV, 2015. P. 263-289.), em que os autores passaram em revista uma amostra parcial (2000-2009) da produção de timbre foucaultiano por cinco cursos de pós-graduação de diferentes regiões geográficas do país: Universidades Federais do Rio Grande do Sul, do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Norte e do Pará, além da Universidade de Brasília.

Em nosso caso, além de focalizarmos a produção contida nos periódicos, recuamos até o início da década de 1990, de modo a contemplar as iniciativas germinais de interlocução direta com o referencial foucaultiano. Primeiro passo: a seleção dos periódicos. Optamos pelos veículos editoriais que compunham os três primeiros estratos avaliativos (A1, A2 e B1) do Sistema Qualis da CAPES, segundo sua versão de 2012 - disponível à época do início dos trabalhos4 4 Por meio da divulgação recente do Qualis 2014, somos informados de que dois periódicos de nossa seleção anterior passaram do estrato B1 para o B2. Ademais, um novo periódico, antes alocado no estrato B2, passou para B1 – não tendo sido contemplado, entretanto, em nossa seleção. Os demais periódicos, salvo alguns deslocamentos pontuais, permaneceram nas faixas A1, A2 e B1. . Vale dizer que tomamos apenas as produções originais da área educacional, uma vez que várias outras áreas de conhecimento correlatas têm alguns de seus periódicos igualmente contemplados aí. Definida a constelação dos 52 periódicos, o próximo passo consistiu na imersão em cada um de seus 2.511 volumes publicados no período.

Uma das dificuldades enfrentadas se referiu ao fato de que boa parte das revistas não contava com seu acervo integral digitalizado, obrigando-nos a rastreá-las em instituições espalhadas pelo país. Sem dúvida, o acesso aos textos consistiu na tarefa mais morosa e intricada, tendo exigido uma dose adicional de obstinação; atitude, afinal, imprescindível para todo aquele que elege arquivos temporais extensos como lócus investigativo. Trata-se, assim, de uma espécie de atenção contínua ao detalhe, ao gosto do próprio Foucault (2000FOUCAULT, Michel. Nietzsche, a Genealogia, a História. In: FOUCAULT, Michel. Arqueologia das Ciências e História dos Sistemas de Pensamento. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000. P. 260-281.), segundo o qual a investida genealógica deveria consistir em um gesto minucioso e paciente, do ponto de vista da documentação.

Assim, o procedimento inicial de investigação consistiu no rastreamento dos textos que informaram, em suas referências bibliográficas, ao menos uma das obras de Foucault, efetivamente abordando-a no corpo do texto. Tal busca resultou no montante de 1.821 artigos, incluídos os autores ligados a instituições estrangeiras. Mediante o volume de informações coletadas, tratou-se, em seguida, de discriminar os textos segundo três categorias distintas - a apropriação incidental, a apropriação conceitual tópica e a apropriação do modo de trabalho -, a reboque daquelas empregadas por Afrânio Mendes Catani, Denice Bárbara Catani e Gilson Pereira (2001CATANI, Afrânio Mendes; CATANI, Denice Bárbara; PEREIRA, Gilson. As Apropriações da Obra de Pierre Bourdieu no Campo Educacional Brasileiro, Através de Periódicos da Área. Revista Brasileira de Educação , Rio de Janeiro, n. 17, p. 63-85, maio/ago. 2001.) no estudo sobre as apropriações de Pierre Bourdieu no campo educacional, ao qual o presente trabalho se alinhou quanto aos procedimentos gerais.

No primeiro caso, conforme o trio de investigadores explicita, trata-se de referências breves, em geral exclusivas, a alguma obra daquele autor, podendo esta constar apenas da listagem bibliográfica, sem menção direta ou substantiva propriamente no corpo do texto. A apropriação incidental refere-se, portanto, a uma relação tênue estabelecida entre a menção ao autor/obra e a argumentação operada.

A apropriação conceitual tópica, por sua vez, é “[...] caracterizada pelo fato de deixar entrever a utilização, conquanto não sistemática, de citações e eventualmente de conceitos do autor” (Catani; Catani; Pereira, 2001CATANI, Afrânio Mendes; CATANI, Denice Bárbara; PEREIRA, Gilson. As Apropriações da Obra de Pierre Bourdieu no Campo Educacional Brasileiro, Através de Periódicos da Área. Revista Brasileira de Educação , Rio de Janeiro, n. 17, p. 63-85, maio/ago. 2001., p. 65). Estes são empregados, em maior ou menor escala, para justificar reflexões propiciadas por um enquadre teórico-metodológico não necessariamente coincidente àquele do autor evocado/citado. Em geral, algumas obras deste são referidas.

Por fim, a categoria apropriação do modo de trabalho descreve o emprego coerente da teorização proposta pelo autor citado, seja no que se refere à incorporação de conceitos específicos, seja quanto à ativação de estratégias metodológicas solidárias a tais conceitos. Trata-se de tentativas de articulação da utensilagem teórica ora a problemas empíricos, ora ao debate conceitual. Daí que um conjunto de obras do autor eleito é, em geral, referido explicitamente no percurso argumentativo dos textos enquadrados nessa categoria.

Uma vez discriminados de acordo com as três grandes categorias, apenas os estudos que tomaram o pensamento de Foucault como modo de trabalho foram selecionados para o trabalho analítico, uma vez que, a rigor, eram eles que continham mais explicitamente os processos que nos interessavam.

A seguir, o quadro geral dos dados escrutinados (Quadro 1):

Quadro 1:
Distribuição da Produção Integral nos Periódicos Selecionados

Uma vez selecionados os 401 textos que sugeriam uma apropriação da teorização foucaultiana como modo de trabalho, algumas questões geradoras impuseram-se: quem eram os pesquisadores envolvidos e suas respectivas filiações institucionais; quais as modalidades narrativas prevalentes; quais as principais temáticas abordadas; qual a abordagem investigativa predominante; quais conceitos foucaultianos foram mobilizados e quais as obras referidas e efetivamente trabalhadas; quais outros autores e/ou comentadores foram evocados e/ou articulados nas argumentações.

Optamos por uma estratégia de endereçamento à massa documental que, atenta apenas a seus movimentos fáticos, fosse capaz de abdicar do ajuizamento de supostos bons, ou maus, usos das ideias foucaultianas, assim como de apropriações mais, ou menos, fidedignas, adequadas, consistentes etc. De modo consonante à manifestação de Michael Peters e Tina Besley (2008PETERS, Michael; BESLEY, Tina. Introdução. In: PETERS, Michael; BESLEY, Tina (Org.). Por que Foucault? novas diretrizes para a pesquisa educacional. Porto Alegre: Artmed, 2008. P. 11-24.) acerca da recepção heterogênea das ideias foucaultianas no mundo anglófono, pautamo-nos na seguinte premissa:

Podemos escolher aspectos de seu pensamento ou influências presentes no seu pensamento para demonstrar uma proposição, elucidar um ponto, examinar um argumento ou enfeitar nossas próprias intuições teóricas. Foucault quase estimula essa apropriação fragmentária, não-sistemática e poética de sua obra. [...] Que um texto estimule e permita novas interpretações é um sinal de sua riqueza, profundidade e complexidade (Peters; Besley, 2008PETERS, Michael; BESLEY, Tina. Introdução. In: PETERS, Michael; BESLEY, Tina (Org.). Por que Foucault? novas diretrizes para a pesquisa educacional. Porto Alegre: Artmed, 2008. P. 11-24., p. 14).

Desta feita, de modo refratário a qualquer tentação hermenêutica generalizante das fontes sobre as quais nos debruçamos, preferimos nos aventurar na superfície acidentada de um arquivo extenso, compreendendo-o tão somente como uma prática igualmente acidentada, sujeita, portanto, a um sem-número de revezes. Tratou-se, em suma, do esforço deliberado em favor de uma espécie de ignorância ativa e, ao mesmo tempo, interessada pelo que ali se passava. Guardadas as proporções, coube-nos observar um gesto do próprio Foucault (2014FOUCAULT, Michel. Do Governo dos Vivos: curso do Collège de France (1979-1980). São Paulo: WMF Martins Fontes, 2014.), ao comentar retrospectivamente seu trabalho sobre a loucura:

Tratava-se de não partir de nenhum universal que dissesse: eis a loucura. [...] Era preciso considerar a loucura um x e se apropriar da prática, somente da prática, como se não se soubesse nada e fazendo de modo a não saber nada sobre o que é a loucura (Foucault, 2014FOUCAULT, Michel. Do Governo dos Vivos: curso do Collège de France (1979-1980). São Paulo: WMF Martins Fontes, 2014., p. 74).

Foucault na Investigação Educacional Brasileira

Iniciemos o trajeto analítico destacando a produção de origem estrangeira que evocou o nome de Foucault entre os 1.821 artigos. Nos 52 periódicos, tal produção equivale a 253 textos - pouco menos de 14% do total -, a cargo de 285 autores (de modo individual, em duplas ou em maior número) oriundos de 20 diferentes países5 5 Textos individuais de autores brasileiros, quando ligados a instituições estrangeiras, foram computados na produção estrangeira. Situações inversas seguiram a mesma lógica: a produção individual de autores estrangeiros ligados a instituições nacionais foi considerada nacional. No caso, entretanto, de textos em coautoria entre autores brasileiros e estrangeiros, tratou-se de computá-los individualmente quanto à sua procedência. . Como se pode atestar a seguir (Gráfico 1), a Argentina, ao ocupar posto principal com mais de um quarto do total das filiações autorais (26%), junto com outros cinco países latino-americanos, abriga a maioria dos pesquisadores estrangeiros (43%), seguidos pelos europeus (42%). Contabilizam-se, ainda, aqueles sediados na América do Norte (14%) e, por fim, os australianos (pouco mais de 1%). Não se registrou a presença de autores dos outros dois continentes.

Gráfico 1
Produção de Origem Estrangeira

Entre os autores mais assíduos estão o inglês Stephen J. Ball, com sete artigos, e o argentino Pablo Ariel Scharagrodsky, com cinco. Outro argentino, Mariano Narodowski, assim como o colombiano Carlos Ernesto Noguera-Ramírez e o português José Augusto Pacheco tiveram, cada qual, quatro textos publicados. Com um número menor de textos, figuram outros nomes de destaque no âmbito dos estudos foucaultianos, cuja produção tem sido referencial para uma série de estudos nacionais, tais como: Jorge Ramos do Ó e Thomas S. Popkewitz, com três textos cada um; Inés Dussel, Jan Masschelein, Jorge Larrosa e Valerie Walkerdine, com dois textos; bem como Jennifer M. Gore, Olena Fimyar, Colin Gordon, Fernando Alvarez-Uria, Julia Varela e Nikolas Rose, com um texto cada um.

Separado o quadro dos autores estrangeiros, tomamos como parâmetro, tal como já referido, os artigos que se enquadravam na categoria modo de trabalho, sobre os quais nos detivemos atentamente. Conforme se verá abaixo (Gráfico 2), trata-se de mais de um quarto da produção integral (26%), sendo o restante distribuído da seguinte maneira:

Gráfico 2
Produção Investigativa Segundo os Tipos de Apropriação

No que diz respeito à cronologia dos textos, temos que o primeiro artigo explicitamente devotado ao pensamento foucaultiano, da autoria de Maria Juracy Toneli Siqueira (1990SIQUEIRA, Maria Juracy Toneli. Aproximando-se da Escola: algumas considerações à luz das ideias de Michel Foucault. Perspectiva, Florianópolis, v. 8, n. 15, p. 70-90, 1990. ), veio a público em 1990, na revista Perspectiva. Vejamos.

Gráfico 3
Distribuição Temporal da Produção Selecionada

Se agrupados em faixas temporais mais longas, os dados (Gráfico 3) revelam-se esclarecedores quanto ao crescimento exponencial dos trabalhos devotados a ou inspirados pelo pensamento foucaultiano, chegando, em alguns casos, a mais que duplicar em cada intervalo sucessivo de cinco anos. Vejamos no gráfico abaixo (Gráfico 4):

Gráfico 4
Distribuição Temporal da Produção Selecionada Segundo Faixas de Cinco Anos

Nos últimos cinco anos pesquisados, concentra-se mais da metade do total dos artigos - mostra irrefutável do crescente interesse pela teorização foucaultiana na investigação educacional realizada no país. Quanto aos periódicos propriamente, temos o seguinte:

Gráfico 5
Distribuição da Produção Selecionada nos Periódicos

A maior frequência de publicações relacionadas a Foucault - equivalente a pouco menos de 15% do total - é encontrada em Educação & Realidade (Gráfico 5), periódico ligado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em cuja Faculdade de Educação foram disparadas as pesquisas em torno do pensador francês e que, conforme se verá adiante, continua a sediá-las com regularidade. Em seguida, aparece um segundo grupo de 12 revistas cuja produção mantém-se entre 22 e 10 artigos publicados. Por sua vez, um terceiro grupo, com 35 revistas, publicou um número menor de artigos - de nove a um - que tiveram Foucault como referência principal. O último grupo, composto por quatro periódicos, não teve artigos computados nessa etapa da investigação, embora contasse com textos que mobilizaram apropriações incidentais ou conceituais tópicas.

Quanto à autoria referida na produção dos 401 artigos, temos novamente um conjunto de dados (Quadro 2) bastante esclarecedores: trata-se de 323 autores, assim distribuídos, segundo o número de artigos de sua lavra (individual ou em parceria)6 6 Em apenas dois casos houve parceria entre autores brasileiros e estrangeiros. .

Quadro 2:
Distribuição dos Autores da Produção Selecionada

Cabe destacar o fato de que os primeiros 10 autores - menos de 3% do total - concentram mais de um quarto da produção nos periódicos analisados, com o montante de 102 artigos. Conclui-se, portanto, que se trata da reunião dos pesquisadores mais assíduos, sem que isso signifique necessariamente impacto sobre as pesquisas alheias. Mostra disso são as citações mais frequentes nos 401 artigos.

Gráfico 6
Autores mais citados na produção selecionada

Como é visto no Gráfico 6 (acima), no caso dos autores brasileiros, salta aos olhos o fato de a obra de Alfredo Veiga-Neto, por meio de seus livros ou artigos, ter sido citada em quase 40% dos artigos selecionados. Ele e Rosa Maria Bueno Fischer, bem como, em menor grau, Sandra Mara Corazza, constituem o trio de autores que lograram um duplo reconhecimento: estão entre os mais produtivos e, ao mesmo tempo, os mais referidos na produção nacional. Não sem razão, os três pesquisadores estão ou estiveram ligados à UFRGS, sede do maior número de filiações institucionais dos trabalhos publicados. Tomaz Tadeu da Silva, também ligado à UFRGS, e Roberto Machado, autor do campo filosófico e um dos introdutores de Foucault no país, somam-se aos autores mais citados, embora, em ambos os casos, eles não figurem entre autores dos artigos.

No que diz respeito aos estrangeiros referidos, trata-se, na maioria das vezes, daqueles pensadores que, nos textos, foram evocados a título ora de conexões, ora de contraponto, ora ainda de atualização teórica do referencial foucaultiano, fosse no quadrante imediatamente educacional - nos casos de Jorge Larrosa e Thomas Popkewitz -, fosse de modo mais genérico - com Gilles Deleuze, Nikolas Rose e Zygmunt Bauman.

A seguir (Gráfico 7), a relação das procedências dos autores brasileiros.

Gráfico 7
Filiações Institucionais dos Autores

Novamente, destaca-se a participação dos pesquisadores da UFRGS. Sozinhos, eles são responsáveis por quase 21% do total de filiações institucionais. Porém, se somados aos colegas da UNISINOS, FURG, ULBRA, UFPel, UFFS, UFSM, PUCRS, UNIPAMPA, UCS, UNILASALLE, UNISC, UERGS, INIJUI e UPF, os gaúchos chegam ao patamar de 54% do total de filiações institucionais, tornando-se, de longe, o conjunto mais volumoso de pesquisadores do campo.

Resta-nos, de agora em diante, adentrar o universo propriamente argumentativo dos artigos, de modo a evidenciar as linhas gerais da apropriação das ideias foucaultianas, a começar pela configuração das referências textuais do próprio Foucault mais empregadas pelos pesquisadores. Subdividida em três grandes frentes textuais (livros, cursos e textos isolados (Gráfico 8)), a obra foucaultiana foi empregada nos textos da seguinte maneira (os valores correspondem à quantidade de vezes em que cada um três campos textuais foi mobilizado nos 401 artigos):

Gráfico 8
Fontes Bibliográficas de Foucault Citadas na Produção Selecionada

A maior fonte de inspiração para os artigos são os livros escritos por Foucault, bem como os textos esparsos, representando o dobro das referências quando comparadas com os cursos - uma fonte subsidiária importante das ideias foucaultianas, sobretudo no que se refere às últimas produções do pensador. Pode-se admitir, então, que os livros e os textos esparsos constituem uma espécie de suporte já mais solidificado entre os pesquisadores do que o dos cursos, estes representando um continente ainda por explorar.

Quanto aos livros, temos a seguinte configuração (Gráfico 9)8 8 VP: Vigiar e punir. / HS1: História da sexualidade 1. / AS: A arqueologia do saber. / OD: A ordem do discurso. / HS2: História da sexualidade 2. / PC: As palavras e as coisas. / HS3: História da sexualidade 3. / HL: História da loucura. / NC: Nascimento da clínica. / DMP: Doença mental e psicologia. / RR: Raymond Roussel. :

Gráfico 9
Livros de Foucault Citados na Produção Selecionada

Vigiar e Punir foi citado em 44% dos textos. De fato, trata-se da referência capital entre os pesquisadores, precedida apenas por Microfísica do Poder, obra que foi enquadrada, aqui, na categoria dos textos, uma vez que se trata de uma coletânea. O primeiro, publicado na França em 1975 e no Brasil em 1977, atingiu sua 42a edição em 2015, ao passo que o segundo chegou, em 2014, a sua 28a edição.

Ainda no que concerne aos livros, merecem destaque o primeiro volume de História da Sexualidade e A Arqueologia do Saber. Curioso, no entanto, é o escasso interesse dos pesquisadores da área por obras emblemáticas como História da Loucura e Nascimento da Clínica, além das parcas referências a Doença Mental e Psicologia e Raymond Roussel. De todo modo, o interesse da área, expresso nas obras mais referidas, parece ser patente quanto a uma tríade temático-conceitual: disciplina/sexualidade/discurso.

Enveredemos pela segunda frente textual mais utilizada pelos pesquisadores: os textos esparsos (Gráfico 10)9 9 MP: Microfísica do poder. / D&E: Ditos e escritos (versões em francês e português). / SPGE: O sujeito e o poder; Sobre a genealogia da ética. [DREYFUS, H.. RABINOW, P.]. / VFJ: A verdade e as formas jurídicas. / TY: Tecnologías del yo y otros textos afines. / QA: O que é um autor? / DUE: O dossier – últimas entrevistas. [ESCOBAR, C. H.]. / QC: O que é a crítica? / VS: Verdade e subjetividade. / AMV: Da amizade como modo de vida. / TS: Tecnologias de si. / PEX: O pensamento do exterior. / MFE: Michel Foucault, entrevistas. [DROIT, R.-P.]. / EEH: Estética, ética y hermenéutica. / VHI: A vida dos homens infames. / TPH: Nietzsche, Marx & Freud – Theatrum philosophicum. / YM: El yo minimalista y otras conversaciones. [KAMINSKY, G.]. / HD: O homem e o discurso. / EPR: Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão. / HB: Herculine Barbin: o diário de um hermafrodita. / INC: Isto não é um cachimbo. .

Gráfico 10
Textos Esparsos de Foucault Citados na Produção Selecionada

Convém lembrar que vários desses textos, englobados na coleção Ditos e Escritos, circularam antes da publicação brasileira de seus 10 volumes, na forma ora de livros, ora de textos publicados isoladamente, ora ainda de publicações elaboradas ou organizadas por outros autores, contendo algumas entrevistas e textos selecionados (p.e., os livros de Hubert Dreyfus e Paul Rabinow; de Carlos Henrique Escobar; de Roger-Pol Droit; e de Gregório Kaminsky).

Vejamos, por fim, a situação dos cursos proferidos pelo pensador, relembrando o fato de que apenas recentemente a totalidade deles (13) veio ao público na França, e que, no Brasil, até o momento, foram publicados apenas 12 deles. Dentre eles, nove foram citados pelos pesquisadores, além do Resumo dos Cursos do Collège de France. Quanto a Do Governo dos Vivos, publicado no Brasil em 2014, as referências utilizadas provêm de uma versão reduzida do livro, a qual contém a transcrição de duas de doze aulas de Foucault do curso de 1979-1980 (Gráfico 11)10 10 STP: Segurança, território, população. / DS: Em defesa da sociedade. / HS: A hermenêutica do sujeito. / NB: Nascimento da biopolítica. / OAN: Os anormais. / GSO: O governo de si e dos outros. / PP: O poder psiquiátrico. / GV: Do governo dos vivos. / CV: A coragem da verdade. / RCCF: Resumo dos cursos do Collège de France. .

Gráfico 11
Cursos de Foucault Citados na Produção Selecionada

Os dados acerca dos cursos mais referidos não deixam dúvida quanto à atenção dos pesquisadores centrada na tópica da governamentalidade. Dentre os quatro mais citados, três deles estão voltados à tematização da noção de governo. Destaque, igualmente, para A Hermenêutica do Sujeito, curso pertencente à intitulada última fase do pensamento foucaultiano, esta composta por cinco obras, sendo que quatro delas vieram a público apenas nos últimos anos11 11 O curso Subjetividade e Verdade veio a público no Brasil apenas em novembro de 2016; não tendo sido contemplado na presente investigação. .

De modo a corroborar as reflexões anteriores acerca do interesse teórico dos pesquisadores, temos, a seguir (Gráfico 12), uma disposição geral dos conceitos mobilizados nos 401 artigos, muitas vezes de maneira simultânea e/ou complementar.

Gráfico 12
Conceitos Foucaultianos Mobilizados na Produção Selecionada

De fato, a tópica do governo/governamentalidade parece ser aquela que, com o tempo, foi ganhando mais espaço entre os pesquisadores. Contudo, é inegável a persistência dos estudos em torno dos três temas axiais da obra foucaultiana - discurso/poder/sujeito -, sendo atravessados por outras emergências teóricas.

O sobrevoo pelos usos da obra e dos conceitos foucaultianos nas pesquisas brasileiras não permite, entretanto, uma visão mais apurada daquilo que ali se produziu. Enveredemos, então, pelos tipos gerais de procedimento investigativo, segundo o que foi informado pelos autores, e sua ocorrência nos artigos que tomaram Foucault como modo de trabalho.

Gráfico 13
Tipos Procedimentais da Produção Selecionada

Convém esclarecer que a distinção - apresentada no Gráfico 13 - entre ambas as modalidades investigativas reside na estruturação discursiva da análise empregada. No caso dos 246 relatos de pesquisa, trata-se de uma atenção mais imediata a um problema específico, por meio do confronto com dados empíricos, ao passo que, nos 155 ensaios teóricos, a economia argumentativa costuma dar-se mais pelo desdobramento de determinadas ideias advindas de fontes teóricas, a título de interpretação do que ali se afigura como problema, e menos pelo exame de dados empíricos, embora estes estejam, algumas vezes, associados à discussão.

Vejamos, a seguir (Gráfico 14), como as duas modalidades se comportaram ao longo das duas décadas e meia.

Gráfico 14
Distribuição Temporal dos Tipos Procedimentais da Produção Selecionada

É evidente o crescimento paulatino, mas exponencial dos relatos de pesquisa - representando dois terços da produção total - a partir de meados da década de 2000. Daí ser possível concluir que a última década viu florescer uma apropriação mais autônoma e, em certa medida, recriadora da teorização foucaultiana.

No caso dos ensaios, modalidade predominante até o início dos anos 2000, a maior parte deles recupera as ideias foucaultianas, seja para retomar, no plano do comentário, alguns pontos centrais e de presumível interesse ao campo educacional, seja para criticar ou reposicionar teoricamente determinadas problemáticas educacionais já assentadas no espectro bibliográfico, seja, por fim, para cotejá-las ou confrontá-las às ideias de outros autores quanto a seu enquadramento educacional.

Assim, enquanto os ensaios priorizam as fontes teóricas no enfrentamento de determinado problema, os relatos de pesquisa, por sua vez, parecem percorrer um caminho argumentativo apoiado primordialmente em dados empíricos acerca desses mesmos problemas. Nesse sentido, pode-se dizer que os ensaios se valem de uma discursividade mais centrípeta, isto é, mais enraizada no exame das ideias do próprio Foucault e de seus comentadores nas articulações com o campo educacional ou nas implicações para este, ao passo que os relatos de pesquisa apresentam um movimento mais centrífugo, já que mais fincado em determinadas injunções concretas não necessariamente antevistas no arsenal teórico foucaultiano, o qual, uma vez selecionado/recortado, finda por ser empregado como crivo analítico daquilo com que ali se deparou.

Mas há ainda outra distinção imprescindível para que se possa melhor circunstanciar os movimentos de apropriação das ideias foucaultianas na pesquisa educacional, segundo um tipo de categorização que nos pareceu mais plausível: o próprio teor da apropriação (Gráfico 15). Ela pode ser de natureza temático-teórica, teórico-metodológica ou, ainda, temático-teórico-metodológica. Vejamos.

Gráfico 15
Modos de Apropriação das Ideias Foucaultianas na Produção Selecionada

A apropriação de teor temático-teórico é aquela que ocorre quando as ideias do pensador são ativadas prioritariamente na configuração do problema investigativo, sem repercussões diretas no tratamento dos dados. De modo inverso, a apropriação teórico-metodológica é atestada quando a teorização é empregada majoritariamente na análise do material e, por extensão, nos encaminhamentos do estudo. Já a apropriação temático-teórico-metodológica dá-se quando o diálogo com Foucault se perfaz de maneira longitudinal na argumentação, desde a configuração do problema em pauta até as conclusões do estudo, passando pelo crivo analítico empregado. Convém esclarecer que tanto os ensaios teóricos quanto os relatos de pesquisa podem assumir quaisquer das três feições.

Tal como no caso dos relatos de pesquisa - e de modo atrelado a eles -, é a partir de meados dos anos 2000 que se dá o maior crescimento da terceira modalidade de apropriação (temático-teórico-metodológica), conforme se pode verificar no cenário exposto a seguir (Gráfico 16).

Gráfico 16
Distribuição Temporal dos Modos de Apropriação das Ideias Foucaultianas na Produção Selecionada

Partindo do pressuposto de que a pesquisa educacional de base ou inspiração foucaultiana que se apresenta de modo mais consistente é aquela expressa pelos estudos que operaram uma apropriação mais coesa ou intensiva das ideias do pensador, o cenário geral que se nos apresenta revela-se promissor. A fim de corroborar tal asserção, cabe-nos ainda enveredar por um derradeiro conjunto de dados, o qual permite uma visão mais apurada tanto dos materiais empregados nas pesquisas empíricas, quanto das temáticas tratadas nos 401 artigos. No Gráfico 17, a seguir, estão dispostas as fontes/materiais principais das pesquisas empíricas. Ressalve-se, no entanto, que o material analítico analisado em tais artigos, por vezes, não se restringiu a apenas uma categoria.

Gráfico 17
Tipos de Materiais Empregados na Produção Selecionada

Os materiais utilizados distribuem-se da seguinte maneira:

Material documental: 1) documentos escolares contemporâneos (projetos político-pedagógicos; pareceres descritivos; estatutos e regimentos escolares; livros de ocorrências disciplinares; fichas de encaminhamento; portfólios; cadernos; provas; relatórios; materiais didáticos; audiovisual); 2) documentos históricos (testes pedagógicos; exames de concurso; manuais e compêndios didáticos; legislações; cartas; relatórios; coleções de livros; periódicos); 3) documentos legais (leis; planos; campanhas; programas e projetos curriculares); e 4) documentos normativos (de ONGs; movimentos sociais; empresas; órgãos internacionais etc.).

Material narrativo: depoimentos, relatos orais e debates (de e com professores, alunos, gestores e comunidade); grupos de discussão; grupos focais; reuniões pedagógicas; gravações de aulas; diários de observação; questionários.

Material midiático: revistas pedagógicas; revistas comerciais para adultos, jovens e crianças; programas televisivos gerais e específicos (pedagógicos); jornais; filmes de ficção, documentários e vídeos; peças teatrais; obras literárias; canções; conteúdos virtuais (sites, blogs etc.).

Material acadêmico: teses, dissertações e trabalhos de conclusão; periódicos e publicações especializadas (anais e resumos de eventos, fóruns, encontros); obras/textos pedagógicos clássicos e contemporâneos; revisões bibliográficas.

A seguir, a última incursão nos dados levantados permite a visualização, em conjunto, de um plano fulcral para a compreensão da apropriação das ideias foucaultianas no campo educacional, por meio da explicitação das temáticas principais dos estudos, bem como, por extensão, dos nichos temáticos e teóricos da área com os quais os estudos foucaultianos têm mantido relação mais direta, assim como aqueles que, no decorrer do tempo, apresentaram maior porosidade, ou mesmo adesão, ao ponto de vista de Foucault. São eles (apresentados no Gráfico 18):

Gráfico 18
Tipos de Temáticas Focalizadas na Produção Selecionada

Como era de se esperar, há um conjunto de textos, mormente no âmbito dos ensaios, que se debruçam sobre determinados conceitos ou temáticas no interior da própria teorização foucaultiana. Trata-se de textos marcados prioritariamente pela estratégia do comentário; textos, afinal, reguladores do próprio campo, no sentido de se firmarem como balizas para seus praticantes.

As duas temáticas imediatamente concorrentes revelam uma inequívoca ambição da pesquisa foucaultiana no país: ela tenciona dar conta tanto dos afazeres típicos das práticas escolares quanto daquelas ações de substrato educativo que, muitas vezes sob o timbre das pedagogias culturais (via mídia e TIC, p.e.), ocorreriam para além dos muros escolares, incluídos determinados problemas candentes da atualidade político-social. Destaque, igualmente, aos estudos voltados ao corpo, sexualidade e congêneres, além, e sobretudo, das proposições em torno do imperativo da inclusão, em suas diferentes dimensões.

Os campos subdisciplinares mais atravessados pelo olhar dos pesquisadores vão desde aqueles do ensino universitário, da educação infantil e de jovens e adultos, passando pelo da história da educação, chegando até o ensino de matemática, de filosofia, de educação física e de ciências/biologia. Já no que se refere ao universo discursivo da área educacional, em termos mais paradigmáticos, foram alvo de atenção dos pesquisadores: as ideias pedagógicas, os estudos curriculares, a política/legislação educacional, a formação docente e geral, bem como a própria pesquisa em educação e os mecanismos em torno do ato de escrever.

Desta feita, é possível concluir que e empreendimento dos estudos foucaultianos na educação resulta multifacetado e copioso, tendo adquirido amplitude e consistência argumentativas ao longo dos últimos anos - o que nos leva a contrariar, ao menos em parte, o ajuizamento de Tomaz Tadeu da Silva (2002SILVA, Tomaz Tadeu da. Mapeando a [Complexa] Produção Teórica Educacional. Currículo sem Fronteiras, Porto Alegre; Lisboa, v. 2, n. 1, p. 5-14, 2002.), segundo o qual teria havido uma acomodação dos estudos de cunho pós-estruturalista, incluindo os foucaultianos, em razão da importação teórica de modo superficial e mecânico.

Somados, o crescimento exponencial dos estudos, a profusão de temáticas abordadas, a intensificação das pesquisas de cunho temático-teórico-metodológico e o próprio espraiamento da pesquisa foucaultiana pelos centros/grupos de investigação em praticamente todo o território nacional, levam a crer que estamos diante de uma espécie de vitalidade investigativa digna de nota, ratificando o fato de que, mesmo após três décadas do desaparecimento de Foucault, seu pensamento continua a emitir sinais, cujos ecos não cessam de chegar a nós.

Considerações Ulteriores

Por meio do estudo de Valentín Galván (2010GALVÁN, Valentín. De Vagos y Maleantes: Michel Foucault en España. Barcelona: Virus Editorial, 2010.) acerca da recepção do pensamento foucaultiano no mundo hispânico e, particularmente, no espanhol, sabe-se que uma tese defendida em 1980 na Universidade Autônoma do México tomou Foucault como um de seus teóricos de base. Disposto a analisar as mudanças históricas nos textos oficiais sobre a educação primária no México, o trabalho se obstinou em denunciar os mecanismos estatais, a reboque dos quais eram engendradas, “[...] por meio da educação, a generalização e a assimilação dos valores próprios da burguesia, suas práticas de dominação que, até agora, lhes têm servido para se manter no poder” (Guillén Vicente apud Galván, 2010, p. 279, tradução nossa).

O estudo não teria maiores repercussões, a não ser pelo fato de que seu autor - Rafael Sebastián Guillén Vicente - viria a se tornar, logo depois, o subcomandante Marcos, líder do Exército Zapatista de Libertação Nacional. O estudo conduzido pelo guerrilheiro é emblemático de um tipo de emprego trivial das teorizações foucaultianas nos estudos educacionais, de acordo com o qual se redunda em uma equação explicativa de vocação tautológica e autossuficiente: onde houver educação, haverá poder e, obrigatoriamente, resistência. Ou, mais precisamente: onde houver poder, haverá educação e, com sorte, alguma resistência.

Recorrente nos estudos foucaultianos na educação, tal equação porta um valor explicativo opaco, senão neutro, uma vez que finda por não se distinguir da mão-de-ferro hermenêutica de crivos teóricos afins ou mesmo concorrentes às ideias foucaultianas; a maioria deles enredada em um denuncismo tão reativo quanto jactante, convertido em salvo-conduto crítico entre os estudiosos. Seria preciso ir além, portanto, se se quisesse caracterizar a contento a especificidade dos estudos de orientação foucaultiana, situando-a no intervalo preciso de algumas ideias-compromisso associadas a um plano de ação do intelectual específico, assim sumarizadas por Veiga-Neto (2006, p. 89): “[...] do descentramento do sujeito, da dissolução do antropologismo, do a priori histórico, da prática da crítica constante, do afastamento definitivo das metanarrativas modernas”. A singularidade produtiva dos estudos foucaultianos na educação residiria, nesse caso, em um distanciamento estratégico da idealização atestada de ponta a ponta no discurso educacional contemporâneo, consubstanciada em uma ferrenha vontade de progresso, de autonomia e, inevitavelmente, de afiliação doutrinária - aderente ou resistente aos ditames discursivos da época, tanto faz.

O pesquisador inglês Ansgar Allen (2012ALLEN, Ansgar. Using Foucault in Education Research. British Educational Research Association, On-line, 2012. Disponível em: <Disponível em: https://www.bera.ac.uk/researchers-resources/publications/using-foucault-in-education-research >. Acesso em: 01 dez. 2014.
https://www.bera.ac.uk/researchers-resou...
, s/p, tradução nossa) bem explicita o intento diferenciador aí possível:

Pesquisadores educacionais que buscam adotar o quadro teórico de Foucault são, portanto, desafiados a evitar fazer julgamentos baseados em um ideal implícito do que a educação é ou deveria ser. Essa injunção antinormativa lhes permitirá interrogar os problemas educacionais com maior cautela e discernimento crítico.

Ponto pacífico, o desapego ou, no mínimo, a discrição no tocante aos apelos normativos do campo implicaria uma contrapartida precisa: tomar o encontro educacional como uma prática histórica pontual - isto é, nem suficiente, nem necessária -, e seus efeitos como resíduos quebradiços do entrechoque discursivo entre diferentes gerações encerradas na intransitividade do próprio presente. Uma prática vitalícia e sempre insuspeita, portanto.

Eis aqui o ponto de virada que permitiria a ultrapassagem da mera constatação dos efeitos saturantes das relações de poder nas práticas educacionais, em direção a outro horizonte analítico mais vibrante, não obstante incerto, em que figurassem propagações inauditas do legado foucaultiano, para além de apropriações de véspera. Nesse caso, é ao Foucault dos últimos cursos no Collège de France que, a nosso ver, se poderia recorrer, nos quais novas chaves analíticas do acontecimento educacional vêm à tona. Perspectiva análoga é a de Collin Gordon, outro inglês estudioso da obra foucaultiana:

[...] ainda há oportunidades de fazer conexões criativas. Especialmente, é claro, porque uma grande parte dos cursos está sendo publicada apenas nos últimos dez anos [...]. Pode-se voltar às mesmas aulas muitas vezes e constantemente encontrar algo novo; nessas fontes há tantas ideias originais que leva muito tempo até esgotar todas as coisas que se pode encontrar nelas (Jardim, 2013JARDIM, Fabiana. Breve Genealogia dos Estudos da Governamentalidade: o efeito Foucault e seus desdobramentos. Uma entrevista com Colin Gordon. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 39, n. 4, p. 1067-1087, out./dez. 2013., p. 1086).

Se assim considerado o cerne da pesquisa educacional contemporânea a partir de Foucault, despontam não apenas um eixo renovado de problematização das mazelas da atualidade educacional, mas sobretudo certa reaproximação à própria pedagogia, da qual, segundo a visão certeira de Alexandre Simão de Freitas (2012FREITAS, Alexandre Simão de. Foucault e a Educação: um caso de amor (não) correspondido? In: PAGNI, Pedro Angelo; BUENO, Sinésio Ferraz; GELAMO, Rodrigo Pelloso (Org.). Biopolítica, Arte de Viver e Educação. Marília: Oficina Universitária; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012. P. 51-73.), Foucault foi um crítico e também um amante.

Os textos tardios trazem à tona para o debate pedagógico as formas práticas encaminhadas por indivíduos e grupos para se reconhecerem como sujeitos de sua própria formação, desvelando uma genealogia dos processos formativos apreendidos no âmbito de uma pragmática que correlaciona campos de saber, tipos de normatividade e formas de relação a si (Freitas, 2012FREITAS, Alexandre Simão de. Foucault e a Educação: um caso de amor (não) correspondido? In: PAGNI, Pedro Angelo; BUENO, Sinésio Ferraz; GELAMO, Rodrigo Pelloso (Org.). Biopolítica, Arte de Viver e Educação. Marília: Oficina Universitária; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012. P. 51-73., p. 63).

Não por acaso, é aos gregos e romanos que o pensador se volta em seu projeto teórico derradeiro, uma vez que neles encontra algo que difere sobremaneira do primado da libertação, esta tomada usualmente como neutralização das relações de poder: as práticas de liberdade. Afirma Foucault (2004aFOUCAULT, Michel. A Ética do Cuidado de si como Prática da Liberdade. In: FOUCAULT, Michel. Ética, Sexualidade, Política. Rio de Janeiro: Forense Universitária , 2004a. P. 264-287., p. 268): “A preocupação com a liberdade foi um problema essencial, permanente, durante os oito grandes séculos da cultura antiga. Nela temos toda uma ética que girou em torno do cuidado de si e que confere à ética antiga sua forma tão particular”.

A atenção dispensada por Foucault às formas da mestria antiga impele-nos, assim, a conjecturar uma espécie de triangulação imanente entre pedagogia, cuidado de si e parresía, a partir de determinadas elaborações do pensador em seus três cursos últimos (Foucault, 2004b; 2010; 2011), todas elas apontando para a coragem da verdade, isto é, a “[...] corajosa atividade de alguns que se adiantam, tomam a palavra, tentam persuadir, dirigem os outros, com todos os riscos que isso comporta” (2010, p. 147), como princípio geral do éthos docente. Novamente com Foucault (2004a, p. 270):

O homem que tem um belo éthos, que pode ser admirado e citado como exemplo, é alguém que pratica a liberdade de uma certa maneira. [...] Mas, para que essa prática da liberdade tome forma em um éthos que seja bom, belo, honroso, respeitável, memorável e que possa servir de exemplo, é preciso todo um trabalho de si sobre si mesmo.

Seria possível aos contemporâneos forjar modos de vida em meio às transações entre os mais velhos e os mais novos - aquilo que chamamos educação - que subsidiassem tal potência ético-estilística?

Interditados de qualquer chance de resposta definitiva a tal questão, subscrevemos a conclusão de Bernadette Baker (2004BAKER, Bernadette. Avessos: o nome Foucault no mundo acadêmico anglófono. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 29, n. 1, p. 99-138, jan./jun. 2004., p. 129), influente estudiosa norte-americana dos usos do pensador na educação: “A contribuição de Foucault para a pesquisa educacional [...] não está tanto naquilo que foi feito com suas histórias, entrevistas e conferências, mas naquilo que não foi feito e, possivelmente, no que não pode ser feito”.

Referências

  • ALLEN, Ansgar. Using Foucault in Education Research. British Educational Research Association, On-line, 2012. Disponível em: <Disponível em: https://www.bera.ac.uk/researchers-resources/publications/using-foucault-in-education-research >. Acesso em: 01 dez. 2014.
    » https://www.bera.ac.uk/researchers-resources/publications/using-foucault-in-education-research
  • AQUINO, Julio Groppa. A Difusão do Pensamento de Michel Foucault na Educação Brasileira: um itinerário bibliográfico. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 18, n. 53, p. 301-324, abr./jun. 2013.
  • BAKER, Bernadette. Avessos: o nome Foucault no mundo acadêmico anglófono. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 29, n. 1, p. 99-138, jan./jun. 2004.
  • CATANI, Afrânio Mendes; CATANI, Denice Bárbara; PEREIRA, Gilson. As Apropriações da Obra de Pierre Bourdieu no Campo Educacional Brasileiro, Através de Periódicos da Área. Revista Brasileira de Educação , Rio de Janeiro, n. 17, p. 63-85, maio/ago. 2001.
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  • FOUCAULT, Michel. A Ética do Cuidado de si como Prática da Liberdade. In: FOUCAULT, Michel. Ética, Sexualidade, Política. Rio de Janeiro: Forense Universitária , 2004a. P. 264-287.
  • FOUCAULT, Michel. A Hermenêutica do Sujeito: curso no Collège de France (1981-1982). São Paulo: Martins Fontes, 2004b.
  • FOUCAULT, Michel. O Governo de si e dos Outros: curso no Collège de France (1982-1983). São Paulo: Martins Fontes , 2010.
  • FOUCAULT, Michel. A Coragem da Verdade: curso no Collège de France (1983-1984). São Paulo: Martins Fontes , 2011.
  • FOUCAULT, Michel. Do Governo dos Vivos: curso do Collège de France (1979-1980). São Paulo: WMF Martins Fontes, 2014.
  • FREITAS, Alexandre Simão de. Foucault e a Educação: um caso de amor (não) correspondido? In: PAGNI, Pedro Angelo; BUENO, Sinésio Ferraz; GELAMO, Rodrigo Pelloso (Org.). Biopolítica, Arte de Viver e Educação. Marília: Oficina Universitária; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012. P. 51-73.
  • GALVÁN, Valentín. De Vagos y Maleantes: Michel Foucault en España. Barcelona: Virus Editorial, 2010.
  • JARDIM, Fabiana. Breve Genealogia dos Estudos da Governamentalidade: o efeito Foucault e seus desdobramentos. Uma entrevista com Colin Gordon. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 39, n. 4, p. 1067-1087, out./dez. 2013.
  • PETERS, Michael; BESLEY, Tina. Introdução. In: PETERS, Michael; BESLEY, Tina (Org.). Por que Foucault? novas diretrizes para a pesquisa educacional. Porto Alegre: Artmed, 2008. P. 11-24.
  • PIMENTEL, Glaybe Antonio Sousa; CORRÊA, Paulo Sérgio de Almeida. Apropriações teóricas de produção intelectual de Michel Foucault nas pesquisas em educação. In: LEMOS, Flávia Cristina Silveira et al. Estudos com Michel Foucault: transversalizando em psicologia, história e educação. Curitiba: Editora CRV, 2015. P. 263-289.
  • SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). O Sujeito da Educação: estudos foucaultianos. Petrópolis: Vozes, 1994.
  • SILVA, Tomaz Tadeu da. Mapeando a [Complexa] Produção Teórica Educacional. Currículo sem Fronteiras, Porto Alegre; Lisboa, v. 2, n. 1, p. 5-14, 2002.
  • SIQUEIRA, Maria Juracy Toneli. Aproximando-se da Escola: algumas considerações à luz das ideias de Michel Foucault. Perspectiva, Florianópolis, v. 8, n. 15, p. 70-90, 1990.
  • VEIGA-NETO, Alfredo (Org.). Crítica Pós-Estruturalista e Educação. Porto Alegre: Sulina, 1995.
  • VEIGA-NETO, Alfredo. Na oficina de Foucault. In: GONDRA, José; KOHAN, Walter (Org.). Foucault 80 anos. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. P. 79-91.
  • VEIGA-NETO, Alfredo; RECH, Tatiana. Esquecer Foucault? Pro-posições, Campinas, v. 25, n. 2, p. 67-82, maio/ago. 2014.
  • 1
    Pesquisa financiada pelo CNPq e pela FAPESP.
  • 2
    Em virtude da extensão do arquivo, não será possível apresentar a listagem das obras.
  • 3
    Disponível em: <http://capesdw.capes.gov.br>. Acesso em: 29 ago. 2015.
  • 4
    Por meio da divulgação recente do Qualis 2014, somos informados de que dois periódicos de nossa seleção anterior passaram do estrato B1 para o B2. Ademais, um novo periódico, antes alocado no estrato B2, passou para B1 – não tendo sido contemplado, entretanto, em nossa seleção. Os demais periódicos, salvo alguns deslocamentos pontuais, permaneceram nas faixas A1, A2 e B1.
  • 5
    Textos individuais de autores brasileiros, quando ligados a instituições estrangeiras, foram computados na produção estrangeira. Situações inversas seguiram a mesma lógica: a produção individual de autores estrangeiros ligados a instituições nacionais foi considerada nacional. No caso, entretanto, de textos em coautoria entre autores brasileiros e estrangeiros, tratou-se de computá-los individualmente quanto à sua procedência.
  • 6
    Em apenas dois casos houve parceria entre autores brasileiros e estrangeiros.
  • 7
    UFRGS: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; UNISINOS: Universidade do Vale do Rio Sinos; FURG: Universidade Federal do Rio Grande; UFMG: Universidade Federal de Minas Gerais; USP: Universidade de São Paulo; ULBRA: Universidade Luterana do Brasil; UNESP: Universidade Estadual Paulista; UFPel: Universidade Federal de Pelotas; UNICAMP: Universidade Estadual de Campinas; UERJ: Universidade Estadual do Rio de Janeiro; UFPR: Universidade Federal do Paraná; UFFS: Universidade Federal da Fronteira Sul; UFPE: Universidade Federal de Pernambuco; UFSM: Universidade Federal de Santa Maria; UFRJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro; UFRN: Universidade Federal do Rio Grande do Norte; PUCRS: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; UFJF: Universidade Federal de Juiz de Fora; UFPA: Universidade Federal do Pará; UFSCar: Universidade Federal de São Carlos; UNIFESP: Universidade Federal de São Paulo; UFC: Universidade Federal do Ceará; UFPB: Universidade Federal da Paraíba; FEEVALE: Federação de Estabelecimentos de Ensino Superior em Novo Hamburgo; UFSC: Universidade Federal de Santa Catarina; UFU: Universidade Federal de Uberlândia; UNIPAMPA: Universidade Federal do Pampa; PUCCAMP: Pontifícia Universidade Católica de Campinas; UCS: Universidade de Caxias do Sul; UDESC: Universidade do Estado de Santa Catarina; UFG: Universidade Federal de Goiás; UFS: Universidade Federal de Sergipe; UNEMAT: Universidade do Estado do Mato Grosso; UNILASALLE: Centro Universitário La Salle; UNIMEP: Universidade Metodista de Piracicaba; UNISC: Universidade de Santa Cruz do Sul; PUCPR: Pontifícia Universidade Católica do Paraná; PUCSP: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; UCG: Universidade Católica de Goiás; UERGS: Universidade Estadual do Rio Grande do Sul; UFES: Universidade Federal do Espírito Santo; UFF: Universidade Federal Fluminense; UFMS: Universidade Federal do Mato Grosso do Sul; UFSJ: Universidade Federal de São João Del Rey; UNEB: Universidade do Estado da Bahia; UNIJUI: Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul; UNIUBE: Universidade de Uberaba; UNIVALE: Universidade Vale do Rio Doce; UPE: Universidade de Pernambuco; UPF: Universidade de Passo Fundo; USF: Universidade São Francisco.
  • 8
    VP: Vigiar e punir. / HS1: História da sexualidade 1. / AS: A arqueologia do saber. / OD: A ordem do discurso. / HS2: História da sexualidade 2. / PC: As palavras e as coisas. / HS3: História da sexualidade 3. / HL: História da loucura. / NC: Nascimento da clínica. / DMP: Doença mental e psicologia. / RR: Raymond Roussel.
  • 9
    MP: Microfísica do poder. / D&E: Ditos e escritos (versões em francês e português). / SPGE: O sujeito e o poder; Sobre a genealogia da ética. [DREYFUS, H.. RABINOW, P.]. / VFJ: A verdade e as formas jurídicas. / TY: Tecnologías del yo y otros textos afines. / QA: O que é um autor? / DUE: O dossier – últimas entrevistas. [ESCOBAR, C. H.]. / QC: O que é a crítica? / VS: Verdade e subjetividade. / AMV: Da amizade como modo de vida. / TS: Tecnologias de si. / PEX: O pensamento do exterior. / MFE: Michel Foucault, entrevistas. [DROIT, R.-P.]. / EEH: Estética, ética y hermenéutica. / VHI: A vida dos homens infames. / TPH: Nietzsche, Marx & Freud – Theatrum philosophicum. / YM: El yo minimalista y otras conversaciones. [KAMINSKY, G.]. / HD: O homem e o discurso. / EPR: Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão. / HB: Herculine Barbin: o diário de um hermafrodita. / INC: Isto não é um cachimbo.
  • 10
    STP: Segurança, território, população. / DS: Em defesa da sociedade. / HS: A hermenêutica do sujeito. / NB: Nascimento da biopolítica. / OAN: Os anormais. / GSO: O governo de si e dos outros. / PP: O poder psiquiátrico. / GV: Do governo dos vivos. / CV: A coragem da verdade. / RCCF: Resumo dos cursos do Collège de France.
  • 11
    O curso Subjetividade e Verdade veio a público no Brasil apenas em novembro de 2016; não tendo sido contemplado na presente investigação.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Maio 2017
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2018

Histórico

  • Recebido
    14 Jan 2016
  • Aceito
    31 Out 2016
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