A arte de dizer e a arte de crer: estudo antropológico de narrativa oral e sistemas de crença da Ilha Grande dos Marinheiros - Porto Alegre
DOI:
https://doi.org/10.22456/1984-1191.9183Resumo
Esse depoimento, na verdade, uma fala bem ensaiada e repetida muitas vezes, é um texto que Ricardo, um menino de 18 anos (na época) compôs para introduzir o tema de um documentário etnográfico1, produzido a partir de uma oficina de vídeo para adolescentes de classe popular, moradores da Ilha Grande dos Marinheiros, em Porto Alegre. Fruto de um ano de trabalho, essa oficina de vídeo, e a produção desse documentário são a forma como iniciei minha etnografia (como professor da oficina) entre os moradores da ilha.
Hoje, já não sou o “professor”, nem pesquiso em conjunto com a equipe que realizou o vídeo (moradores da ilha e colegas de pesquisa em antropologia visual). Meu tema de pesquisa se desenvolve junto a velhos moradores da ilha, entre uma memória das transformações espaciais da ilha e o acompanhamento de suas práticas cotidianas. Parte dessa memória, e desse cotidiano, essas histórias “de arrepiar” continuam sendo recorrentes nas conversas do campo, e há mesmo um prazer (não só do pesquisador, mas dos narradores) em dar um lugar destacado a essas histórias nas conversas.
A partir de algumas reflexões surgidas com a disciplina de “Religião e Sociedade”, da qual participei no Programa de Pós-Gradução em Antropologia Social da UFRGS, muitas das práticas e sistemas de crenças de meus informantes começaram a ter maior relevo no contexto da pesquisa. Proponho aqui uma reflexão primeira em torno do conteúdo das histórias, de alguns temas recorrentes, com os sistemas de crença aos quais se encontram relacionadas as pessoas que narram essas histórias. Catolicismo popular, espiritismo kardecista, pentecostalismo se encontram então com as assombrações, com os lobisomens, com as bruxas, e outros.
Num segundo momento, proponho uma reflexão em torno da crença enquanto prática, relacionada com a trajetória religiosa dessas pessoas (e seus “usos da fé”), de encontro a prática da narrativa oral, da tessitura da narrativa, do próprio fazer que envolve não só a prática das formas modernas de crer, mas também da arte de narrar. Minha intenção, devido ao fato do presente estudo ser fruto de uma etnografia ainda em andamento, não é tanto formular grandes conclusões, mas buscar novas possibilidades de reflexão, a partir do pensamento antropológico sobre o tema da religião, junto a estudos de performance e narrativa.
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